A história da emancipação de Volta Redonda
Volta Redonda se destacou ao longo das últimas sete décadas, emergindo como um ícone da industrialização no Brasil, especialmente devido à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), estabelecida em meados da década de 1940. A companhia não apenas impulsionou o crescimento da cidade, mas também simbolizou a era da industrialização brasileira sob a liderança do governo Vargas, que se tornou um importante investidor e planejador. O urbanista Ianni (1971) enfatiza que a CSN representa a vitória dos vencedores da Revolução de 1930, definindo a trajetória de Volta Redonda.
Com uma estrutura urbana planejada, a cidade adotou o modelo de ‘company-town’, onde a empresa controla a infraestrutura local, estratégia comum no início do século XX. Lima descreve esse conceito como uma “minicidade” com habitações, comércio, escolas, hospitais e áreas de lazer geridos por uma única corporação. Essa visão foi corroborada por Assis (2013), que identificou Volta Redonda como uma comunidade predominantemente habitada por empregados da CSN, que controlava considerável parte do mercado imobiliário e serviços urbanos.
O urbanista Atílio Corrêa Lima, famoso por seu planejamento de Goiânia, foi responsável pelo layout de Volta Redonda, desenhando uma cidade operária que evitava grandes monumentos em favor de um design econômico e funcional. Inspirado pelo conceito de cidade industrial de Tony Garnier, o planejamento visava segregar áreas para diferentes funcionalidades: habitação, trabalho, lazer e mobilidade, refletindo a intenção do governo de criar um modelo urbano ideal para a nova sociedade industrial que surgia.
A CSN moldou a paisagem de Volta Redonda, substituindo praças e igrejas tradicionais por sua usina, que se tornou o coração da cidade. Além disso, Assis (2013) menciona que a influência da Igreja ainda era evidente, com a construção de um templo na Vila Santa Cecília, embora fora do foco urbano principal. Assim, a dinâmica entre os setores urbano e fabril era intrinsecamente interligada, buscando um equilíbrio entre capital e trabalho, segundo Lopes (1993).
O planejamento da cidade também refletia uma segregação residencial clara, com a ‘cidade nova’ administrada pela CSN, criada para abrigar técnicos e administradores. Lask (1991) descreveu essa configuração como um ‘estado em miniatura’, onde a empresa não apenas administrava, mas também implementava um sistema de controle social.
Com ruas amplas e bem arborizadas, o planejamento urbano era caracterizado por um design moderno, seguindo padrões rigorosos de urbanidade. A centralidade da Vila Santa Cecília, com a Praça Brasil e o Escritório Central da CSN, tornou-se um marco do espaço urbano local, refletindo a estratégia de urbanização da cidade.
Embora a cidade tenha se desenvolvido sob a liderança da CSN, também havia áreas não planejadas, como a ‘Cidade Velha’, que enfrentaram um crescimento desordenado e se tornaram periferias. Assim, enquanto a cidade experimentou um crescimento significativo, também viu o surgimento de desafios, como a favelização e a necessidade de um planejamento urbano sustentável.
O desenvolvimento da cidade foi dividido em três fases, conforme apresentado por Fontes e Lamarão (2006). A primeira fase, de 1941 a 1954, viu a CSN centralizar e controlar o núcleo urbano; a segunda fase, de 1954 a 1967, ocorreu com a emancipação político-administrativa e uma expansão da malha urbana, enquanto a terceira fase, a partir de 1967, foi marcada pela transferência das responsabilidades urbanas da CSN para a prefeitura, em resposta a uma crise econômica.
No setor educacional, a CSN desempenhou um papel crucial, estabelecendo a Escola Técnica da CSN em 1944 e outras instituições que atendiam a classe média local, reforçando a relação entre a empresa e a educação. Com a passagem dos anos, Volta Redonda continua a se reafirmar como um polo de referência da educação, atraindo estudantes de diversas regiões.
A cidade, que já foi vista como um modelo de industrialização e urbanização, enfrenta agora novos desafios de expansão planejada e desenvolvimento sustentável, com foco em suas características e potencialidades únicas. À medida que Volta Redonda se aproxima do seu 70º aniversário, os cidadãos celebram um legado de trabalho, superação e um futuro promissor.