Fechar menu
    Facebook X (Twitter) Instagram
    RJ no ar
    Facebook X (Twitter) Instagram
    RJ no ar
    Home»Meninos, eu vi como surge uma ditadura anticorrupção

    Meninos, eu vi como surge uma ditadura anticorrupção

    admin_rjnoarBy admin_rjnoar17/07/2025Nenhum comentário4 min de leitura
    Facebook Twitter Pinterest LinkedIn Tumblr Email
    Imagem do artigo
    Reflexões de um testemunho histórico sobre a transição para regimes autoritários
    Share
    Facebook Twitter LinkedIn Pinterest Email

    Reflexões de um testemunho histórico

    Minha trajetória sempre foi marcada pela simplicidade e pela busca de uma vida tranquila; ousadias e aventuras nunca fizeram parte do meu cotidiano. Nunca me atrevi a pular de asa delta, e como torcedor do Vasco, a ideia de ver um jogo contra o Flamengo no meio da torcida rival era algo que me deixava apavorado. Em suma, evitei as emoções fortes e, por isso, ao chegar à oitava década, não me recordo de nenhuma fratura que tenha sofrido.

    Entretanto, poucas pessoas podem afirmar que viveram os primeiros dias de uma ditadura militar. Eu, por minha vez, estive presente em dois desses momentos marcantes. Em 31 de março de 1964, em Recife, testemunhei o clima que levou à prisão de Miguel Arraes, o então governador do estado, dando início à ditadura militar brasileira. Essa experiência já seria o suficiente para contar aos meus netos, mas a vida, de maneira imprevista, me colocou, novamente, em uma situação semelhante doze anos depois, na Argentina.

    Leia também: Celebre os 71 Anos de Volta Redonda com Quatro Shows Gratuitos na Praça Brasil

    Era março de 1976 quando eu e minha esposa, Celinha, participamos de uma excursão organizada pela Soletur, uma agência renomada na época, que se especializava em roteiros pelo Sul do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. Partimos de São Paulo, passando por cidades sulistas e pela Serra Gaúcha, guiados por um brasileiro. Ao cruzar a fronteira para o Uruguai, nosso guia foi substituído por Walter, um uruguaio que, mesmo da nossa faixa etária, se tornou próximo a nós. Durante nossas conversas, Walter deixou entrever que tinha alguma conexão com o Movimento de Libertação Nacional, mais conhecido como Tupamaros, um grupo guerrilheiro urbano do Uruguai.

    Na noite de 23 de março de 1976, partimos de Montevidéu em um navio rumo a Buenos Aires, pelo Rio da Prata. Chegamos ao amanhecer, mas fomos mantidos a bordo até a tarde do dia seguinte, o fatídico 24 de março, quando a ditadura argentina se instaurou, resultando na prisão da presidenta Isabelita Perón e inaugurando um período de terror no país. A partir do porto, fomos transportados em ônibus sob escolta militar. Mesmo com as cortinas fechadas, era impossível não notar o imponente aparato militar nas ruas e praças da cidade.

    Leia também: Celebre os 71 Anos de Volta Redonda com Quatro Shows Gratuitos na Praça Brasil

    Quando chegamos ao hotel, recebemos a notícia de que estávamos em estado de sítio e que não poderíamos sair sem uma autorização superior. A incerteza pairava no ar, pois não havia como saber a quem deveríamos solicitar tal autorização. Comércios, bancos e até mesmo o transporte público estavam paralisados, tornando nosso isolamento ainda mais angustiante. Após três dias, a Soletur conseguiu a liberação para que pudéssemos nos deslocar a Bariloche, onde a vida começava a retornar ao normal.

    No aeroporto, Walter coletou nossos documentos e, ao se aproximar do balcão de check-in, foi surpreendido por um grupo de policiais armados. Ele foi levado, e um oficial se aproximou de nós, perguntando a respeito da minha pessoa. A menção aos Tupamaros me fez temer o pior. Contudo, o oficial apenas me entregou um envelope contendo todos os documentos dos integrantes da excursão, informando que Walter havia solicitado que eu conduzir o embarque. Em Bariloche haveria um agente da Soletur para nos receber. Naquele momento, rapidamente nos organizamos e em poucos minutos estávamos prontos para o embarque.

    Leia também: Liberdade de Expressão em Xeque: Gentili Denuncia Ditadura do Politicamente Correto

    Leia também: Eduardo Paes Defende Jeitinho Brasileiro e Responde à BBC sobre Público de Show

    Poucas horas depois, pousamos em Bariloche, onde a excursão prosseguiu sem mais incidentes. No segundo dia em Bariloche, durante o jantar, Walter surpreendeu a todos ao aparecer. Juntamo-nos para brindar sua libertação e, nesse momento, ficou claro que os militares não tinham acusações contra ele, mas estavam interessados nos 100 mil dólares que ele transportava para cobrir as despesas da excursão. Com efeito, todo o dinheiro desapareceu sem deixar rastros.

    Dessa forma, fui testemunha do início de uma ditadura que se proclamava anticorrupção na Argentina. Uma experiência que ficou gravada em minha memória e que, com certeza, marcará o relato de uma época turbulenta na história sul-americana.

    Argentina Brasília ditadura história
    Share. Facebook Twitter Pinterest LinkedIn Tumblr Email
    admin_rjnoar
    • Website

    Related Posts

    Globo Comunidade DF: Assista à Edição Atualizada

    16/07/2025

    Globo Comunidade DF: Confira as Principais Reportagens do Cotidiano

    11/07/2025

    As Seis Vidas de Niterói: Uma Biografia Impressa em Páginas

    08/07/2025
    Deixe um comentário Cancelar resposta

    Facebook X (Twitter) Instagram Pinterest
    © 2025 ThemeSphere. Designed by ThemeSphere.

    Type above and press Enter to search. Press Esc to cancel.