Um Encontro Literário Imperdível
O escritor Victor P. Viana realiza um bate-papo especial sobre sua mais recente obra, “O homem que vomitava sapos”, nesta quinta-feira (28), às 19h, no Espaço Cultural Sophia Editora, situado na Rua Major Belegard, 502, no coração de Cabo Frio. O evento é gratuito e aberto ao público, permitindo que qualquer amante da literatura participe. O jovem Davi Gautto, ilustrador e filho de Victor, também integrará a conversa, trazendo uma perspectiva única sobre a obra.
No conto que dá título ao livro, Victor escreve: “De repente, percebeu que estava flutuando. Olhou para baixo e viu o caos. Não sentiu culpa. Apenas uma inédita sensação de paz”. Essa frase captura perfeitamente a essência da obra lançada pela Sophia Editora: uma coletânea de textos que transita entre a fantasia, o lirismo e o delírio.
A Obra e Seus Temas
O livro foi apresentado pela primeira vez durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada na Casa Gueto. Nos contos, crônicas e artigos de Victor, o autor explora o sentimento de quem vive em um país marcado pelo absurdo e pela rotina desgastante. É importante notar que muitos desses textos foram publicados na antiga O Perú Molhado, um jornal satírico que circulou entre 1981 e 2015 em Búzios.
Victor explica: “Os textos não são todos contos, portanto nem todos são ficção. Há relatos reais — entrevistas e reportagens que escrevi a pedido dos meus editores — mas apresentados em um estilo literário, onde fui aprimorando meu estilo pessoal”. O cotidiano, segundo ele, é a linha mestra dessas histórias, que, com um olhar atento, podem se revelar extraordinárias.
Crítica e Humor
O cotidiano abordado na obra é muitas vezes distorcido, exagerado ou invertido, criando uma mistura de crítica e humor. Um exemplo dessa abordagem pode ser encontrado no conto “O saco de bosta”: “Homens, quando falam e são tidos como bosta, diz-se que bostejam. Bem, o saco de bosta bostejava de fato, de quando em vez ou de vez em quando — mais uma vez, tanto faz”. Essa mistura de elementos faz do livro uma leitura instigante.
Os cenários descritos nos textos são originários do interior do estado do Rio de Janeiro, com especial ênfase na Região dos Lagos, incluindo cidades como Cabo Frio e Búzios. “É o meu sertão”, define o autor. Victor destaca que sua experiência em redações tradicionais, onde a internet tinha uma influência secundária, o ajudou a moldar seu olhar literário. “O papel do jornalismo na formação desses textos é fundamental”, afirma.
Elementos Pessoais e Universais
O conto título representa uma poderosa síntese da obra: um homem que, após anos engolindo sapos, começa a vomitá-los publicamente. Victor comenta: “Não há uma preocupação consciente em mostrar um ‘tipo de Brasil’, mas trato de temas universais através de personagens, sejam eles reais ou inventados, que habitam espaços que conheço e vivi”.
Davi Gautto, o filho de Victor, é o responsável por ilustrar o universo surreal e satírico presente nos textos. Victor expressa seu orgulho: “Foi emoção pura. A ideia foi do Rodrigo Cabral, editor da Sophia Editora. O Davi é um desenhista precoce e excelente”. Davi, por sua vez, revela que não teve dificuldades em ilustrar a obra: “É parte da minha linha de desenho. O mais legal foi ler os textos do meu pai antes. Eles fluíram naturalmente”. Ele destaca a imagem do conto-título como a mais marcante, reafirmando a intenção de transmitir as emoções que sentiu ao ler.
A obra realmente reflete o poder das narrativas híbridas, mesclando jornalismo e ficção, memória e delírio, pavor e poesia. E, talvez, a única saída para lidar com a vida seja, de fato, vomitar os sapos e flutuar.
Sobre Victor P. Viana
Natural de Itaboraí e criado em Cachoeiras de Macacu, Victor reside em Búzios desde 2005. Ele considera essa cidade litorânea parte de uma região rica em história e narrativas. “A Região dos Lagos é meu sertão”, afirma. Casado com a jornalista e escritora Camila Raupp e pai de três meninos, Victor é um escritor, pesquisador e jornalista dedicado. Seu último livro, “A criança debaixo do guarda-chuva” (2021), retrata as aventuras de uma criança dos 13 aos 16 anos usando uma linguagem poética que desafia clichês, criando uma narrativa sem gênero definido e oferecendo uma interpretação inovadora sobre a escrita não sexista.