Alterações nas Penas e Oposição ao Endurecimento Penal
A recente aprovação pela Câmara dos Deputados de um projeto de lei que promove a redução de penas em regime fechado para os condenados pelos atos golpistas de 2023 representa um desvio significativo da crescente tendência de endurecimento penal observada nos últimos meses. Essa manobra pode ser vista como um aceno ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que, caso a proposta avance, poderá ver sua pena reduzida. O projeto, conhecido como PL da Dosimetria, ainda precisa passar pelo Senado e receber a sanção do presidente.
O texto aprovado na madrugada de quarta-feira (10/12) estipula que, em situações em que os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado forem cometidos simultaneamente, apenas a pena mais severa deverá ser aplicada. Isso implica que as penas não serão somadas, um claro contraste com a situação atual de Bolsonaro, que se encontra detido na sede da Polícia Federal em Brasília.
Vale destacar que a versão final do projeto retirou a proposta de anistia, que era desejada por apoiadores de Bolsonaro. Além disso, crimes cometidos em contextos de multidão poderão ter a pena reduzida em até dois terços. Condenados poderão também ser liberados do regime fechado após cumprirem um sexto da pena, com possibilidades de redução adicional por dias dedicados ao trabalho ou estudo.
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Fonte: agazetadorio.com.br
O relator do projeto, Paulinho da Força (Solidariedade), de São Paulo, destacou em entrevista que a aprovação da Câmara pode resultar na libertação de todos os presos relacionados aos eventos de janeiro. Ele ainda estimou que a pena de Bolsonaro poderia ser reduzida para apenas 2 anos e 4 meses, em contraste com a condenação atual de 27 anos e 3 meses. “Temos tempo para discutir coisas mais relevantes para o Brasil, precisamos virar essa página e focar nas eleições do próximo ano”, enfatizou o deputado ao se dirigir à imprensa.
Endurecimento Penal em Outros Crimes
Enquanto isso, a atmosfera eleitoral favorece a aprovação de iniciativas que propõem o endurecimento das punições para crimes não ligados a figuras políticas, com ênfase no combate ao crime organizado. Esse tema ganhou destaque na política nacional, especialmente após a Operação Contenção, no Rio de Janeiro, e vem sendo debatido entre os possíveis candidatos a cargos nas eleições de 2026.
Na terça-feira, a Câmara também aprovou uma proposta que estabelece regras mais rígidas para os devedores contumazes, aqueles que intencionalmente evitam pagar tributos e tentam escapar de suas responsabilidades fiscais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicou que o endurecimento das leis busca combater organizações criminosas atuando em setores estratégicos, como o de combustíveis.
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Fonte: odiariodorio.com.br
Um caso que ganhou notoriedade foi o do GrupoFit, que opera a refinaria de Manguinhos, no Rio. A empresa é considerada a maior devedora contumaz do Brasil, com dívidas que chegam a R$ 26 bilhões, utilizando um sofisticado esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Em outra frente, investigações da operação Carbono Oculto revelaram que o Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, com dinheiro lavado em instituições financeiras.
Desafios ao Governo e Novos Projetos de Lei
Apesar das tentativas de endurecimento, o PL Antifacção, apresentado em novembro, resultou em um revés para o governo federal, que busca “asfixiar” financeiramente o crime organizado. Este projeto, segundo o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), é considerado a resposta legislativa mais vigorosa ao crime organizado até agora, tipificando novos crimes e endurecendo as punições para integrantes de organizações criminosas.
Especialistas alertam, no entanto, que as mudanças propostas podem mais atender ao clamor popular por punições mais severas do que gerar um impacto real na segurança pública. O projeto se encontra atualmente no Senado, onde poderá ser alterado uma vez mais, com o relator, o senador Alessandro Vieira (MDB), propondo uma nova versão que recupera partes da proposta original. A votação está agendada para esta quarta-feira.
Pacote Anticrimes Violentos e Novos Desafios Legais
Outros projetos que estão por vir oferecem novas oportunidades para a Câmara ajustar a legislação contra o crime organizado. Um deles, o “pacote anticrimes violentos”, foi elaborado pela Comissão de Segurança Pública (CSP), presidida pelo senador Flávio Bolsonaro (PL). Este pacote inclui diversas iniciativas, algumas já em tramitação.
Entre as propostas, estão a determinação de que condenações superiores a seis anos comecem no regime fechado, enquanto atualmente o limite é de oito, além do aumento das penas e a tipificação de novos crimes. Um segundo projeto visa dificultar o progresso do regime e restringir benefícios penais, como saídas temporárias, e agravar as penas para crimes violentos ou reincidentes. O relator desse texto é o deputado Delegado Ramagem (PL), e o projeto já foi aprovado pela Comissão de Segurança Pública, aguardando agora a análise de outras comissões antes de chegar ao Plenário da Câmara.

